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Foto do escritorManoel Pedro da Silva

A ÉTICA CRISTÃ E OS DEZ MANDAMENTOS

Quando Jesus expôs o Sermão do Monte, foi enfático ao afirmar que não veio descumprir a Lei, e, sim, cumpri-la. Deste modo, pode-se dizer que a ética cristã tem por base o decálogo, no que concerne ao seu aspecto espiritual e moral. A ética dos dez mandamentos dá suporte à ética cristã, de modo marcante e aperfeiçoado por Cristo[1].


No Sermão do Monte, tendo o decálogo como máxima da Lei, Jesus trouxe uma nova maneira de cumprir a Lei, valorizando o interior, muito mais do que o exterior. Tal entendimento é fundamental para a consistência e solidez da ética cristã.


Outra questão reflexiva é a de que Cristo aprofundou o cumprimento do decálogo, formulando uma obediência mais exigente dos Dez Mandamentos. Ele fundamenta tal obediência numa atitude consciente, que brota do interior do ser, e não do cumprimento legalista de atos exteriores[2]. Deus prometeu isto a Ezequiel: “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” (Ez 36.26,27).


Enquanto na antiga aliança os atos exteriores falavam mais alto, e eram levados em consideração em termos de julgamento das ações, o Senhor Jesus Cristo procurou mostrar que, para Ele e para Deus, o mais importante é o que se passa dentro do coração dos homens, no íntimo de seu ser. Os ouvintes de Jesus ficaram admirados e perplexos, diante de sua doutrina sobre o cumprimento dos dez mandamentos[3].


Um exemplo desses ensinamentos de Jesus no Sermão do Monte, que se pode refletir, diz respeito à ética do amor. A Lei mandava amar o próximo, mas odiar o inimigo (Lv 19.18). No ensinamento de Jesus sobre o amor, Ele diz: “Ouviste o que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o tu inimigo” (Mt 5.43). Jesus apresenta então uma contraposição ao que preceituava a Lei:

Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos (Mt 5.44,45).


Esta visão eleva o sentido do amor, sendo um verdadeiro teste para o cristão em todos os tempos. Os antigos cumpriam os mandamentos e estatutos, em Israel, de modo formal e frio. Alguém deveria ser punido se matasse, mas não havia condenação para quem odiasse. Contudo, Jesus deu aos mandamentos um sentido muito mais elevado, tornando-os instrumentos da justiça e do amor de Deus[4]. Um exemplo que pode ser citado aqui é a parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37). Nela Jesus define o próximo como alguém que tenha necessidade a qual eu possa atender e aplica o princípio aos de fora da igreja, assim como aos amigos crentes. Quando um doutor da lei perguntou a Jesus sobre as prioridades éticas e espirituais na vida, ele respondeu que as principais obrigações de uma pessoa eram amar a Deus e amar ao próximo como a si mesmo (Lc 10.25-29)[5].


Não foi só no ensino de Jesus que a ética passou a ser aplicada a questões internas do coração humano. É verdade que Jesus estendeu sua denúncia do homicídio à área do coração e das motivações ocultas (Mt 5.22), e a do adultério à área do coração onde uma pessoa tem pensamentos adúlteros (Mt 5.28). Mas no décimo mandamento, a proibição da cobiça é a melhor prova de que Jesus não anunciava algo novo quando dirigiu sua denúncia a atitudes interiores, e não apenas a atos externos. Considerar as atitudes do coração e não apenas atitudes externas foi a preocupação tanto da lei de Moisés como de Jesus que se inspirou nela[6].


Pode-se afirmar que o Novo Testamento foi resumido por Jesus na ordenança por ele dada: “Sede perfeito como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5.48). Tal ordenança nos faz recordar o velho mandamento da Lei: Sede santos, por que eu, Iahweh vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2). A santidade exigida deveria ser modelada sobre o fogo purificador de Deus, no qual a presença do mal não pode subsistir[7]. Jesus não destruiu este ideal. Ele o completou.

“Sede perfeito como Deus é perfeito” revela uma ordem muito elevada. Jesus é o exemplo a ser seguido já que Ele foi perfeito como seu Pai. Este é o desafio desta ordenança. Seguir a Jesus. E seguir a Cristo não é ir à caça de um ideal, mas compartilhar dos resultados de uma realização. Cristo não requer de ninguém que vá aonde ele mesmo não tenha ido, ou fazer alguma coisa que ele mesmo não tenha feito[8]. Nós nunca estamos num caminho desconhecido. Richard Baxter disse:

Cristo me guia de uma parte à outra; não há lugares escuros.

Pois ele foi, antes de mim, de uma parte à outra

Ele que veio pelo reino de Deus, deve entrar por esta porta[9].


Portanto, pode-se afirmar que Cristo tem duas mãos onde uma aponta o caminho e a outra para abraçar e ajudar ao longo do caminho. O ideal cristão então, repousa diante de cada um de nós, não como um distante e austero pico da montanha, mas como uma estrada sobre a qual podemos caminhar com Cristo como guia e amigo[10].


Referências: [1] LIMA, Elinado Renovato de. Ética Crista. Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. Rio de Janeiro. Ed. CPAD, 2ª edição, 2002, p. 32. [2] Ibid, p.33. [3] Ibid, p. 34. [4] Ibid, p. 39. [5] ERA, Scott B. Ética Cristã. São Paulo. Ed. Vida Nova, 1ª edição 2013, p.37. [6] PALLISTER, Alan. Ética Crista Hoje. Vivendo um Cristianismo Coerente em uma Sociedade em Mudança Rápida. São Paulo, Shedd Publicações, 1ª edição 2005, pp. 259,260. [7] MANSON, T. W. Ética e o Evangelho. São Paulo. Ed. Cristã Novo Século, 2003, p. 51. [8] Ibid, p. 52. [9] Séries de seu Potencal Fragments (1981) que aparece em muitos livros de hinos e em versos começando por: “Senhor, isto não pertence ao meu cuidado”. [10] Ética e o Evangelho, p. 59.

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