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Foto do escritorJeremy McMorris

PAULO, BARNABÉ E O CONFLITO

Frequentemente, ao lidar com conflitos, os cristãos se voltam para uma breve passagem específica da Escritura que traz grande conforto e clareza. A passagem em Atos 15, descrevendo o desacordo entre Paulo e Barnabé, tem sido um estranho tipo de conforto para muitos no ministério ao longo dos anos. Embora os detalhes da passagem articulem claramente um desacordo comovente entre dois dos ministros mais importantes do Novo Testamento, eles também servem como um presente precioso de Deus para aqueles no ministério que os seguiram. Considere quantos conflitos ministeriais difíceis são deixados de lado, não porque o certo e o errado de um conflito foram resolvidos, mas porque os envolvidos concordaram em colocá-lo de lado como uma situação de “Paulo e Barnabé”.

O propósito deste artigo será (1) descrever claramente os detalhes do conflito entre Paulo e Barnabé, (2) listar as diferentes posições que os teólogos assumem ao tentar determinar quem foi o culpado, (3) defender uma posição baseada nesta informação, e (4) enumerar várias lições que servirão para aqueles no ministério que estão passando por conflitos.


OS DETALHES DO CONFLITO

Em Atos 15:36, Paulo e Barnabé ainda estavam em Antioquia após a conclusão de uma bem-sucedida viagem missionária, uma viagem que mais tarde seria conhecida como a primeira viagem missionária de Paulo. Eles começaram a jornada com outro homem em sua companhia. João Marcos, primo de Barnabé, partiu com eles inicialmente, mas por algum motivo (provavelmente alguma dificuldade ou dificuldades), João Marcos os abandonou na região da Panfília e voltou para Jerusalém.

Uma vez em Antioquia, Paulo sugeriu a Barnabé que voltassem pela região que haviam acabado de percorrer em sua jornada missionária, para fortalecer as igrejas nas quais haviam pregado. Barnabé, ansioso para ir, sugeriu que levassem João Marcos com eles. Aparentemente, João Marcos tinha vindo a Antioquia para se juntar a este grupo missionário. Embora os detalhes aqui não sejam claros, parece que João Marcos reconsiderou seus caminhos e desejava uma segunda chance.

Mas Paulo foi veementemente contra a ideia de Barnabé. O grego usado nesta passagem deixa claro que Paulo se opôs fortemente à ideia de João Marcos se juntar a eles. Aparentemente, Paulo considerou a primeira deserção de João Marcos um risco muito grande para assumir uma missão tão importante. Barnabé, por outro lado, estava disposto a dar uma segunda chance a João Marcos. Ele viu o que mais tarde provou ser verdade, que João Marcos estava genuinamente arrependido.

Paulo e Barnabé estavam em um impasse. O texto indica que se tratava de um desacordo significativo. Foi uma “grande discordância”, afirma o versículo 39. Esse desacordo foi tão significativo, de fato, que essa dupla dinâmica se separou. Barnabé levou João Marcos e navegou para Chipre para o trabalho do evangelho lá, enquanto Paulo levou um dos líderes da igreja de Jerusalém, um homem chamado Silas, com ele.


POSIÇÕES DIFERENTES

Os leitores querem saber quem estava certo, mas o texto não afirma clara e diretamente qual dos homens estava certo. Muitos comentários ainda permanecem em silêncio sobre esta questão. Nenhum dos dois é diretamente acusado de pecar neste assunto, mas existem algumas pistas nas Escrituras que indicam que um pode estar certo e o outro errado? Considere as seguintes posições:


PAULO ESTAVA CERTO

Uma posição sustentada afirma que Paulo estava certo neste assunto. John MacArthur afirma:

“Embora a Escritura não diga explicitamente, o peso da evidência favorece Paulo. Ele era um apóstolo, Barnabé não era. Portanto, Barnabé deveria ter se submetido à autoridade apostólica de Paulo. Além disso, Paulo e Silas, mas não Barnabé e Marcos, foram elogiados pela igreja (v. 40). Finalmente, Barnabé deveria ter percebido que seria imprudente e difícil ter Marcos junto se Paulo não confiasse nele”.

O ponto mais forte para esta posição é o elogio de Paulo e Silas pela igreja de Antioquia, ao iniciarem sua jornada missionária. Embora não haja menção se a igreja elogiou ou não Barnabé e João Marcos, está claro que Paulo e Silas receberam a aprovação e a bênção da igreja de Antioquia quando partiram.


BARNABÉ ESTAVA CERTO

Outra posição defendida é que Barnabé estava certo neste assunto. Torna-se abundantemente claro em livros posteriores do Novo Testamento que João Marcos havia de fato sido restaurado ao ministério útil e até mesmo reconciliado com o próprio apóstolo Paulo (Colossenses 4:10; Filemom 24). Mais tarde, Paulo realmente pediu a companhia de João Marcos, afirmando: “Quando vieres, traz Marcos contigo, porque ele me será útil no meu ministério” (2 Timóteo 4:11). Barnabé era um encorajador e estava disposto a arriscar e dar uma segunda chance. Seu histórico parece sólido. Ele estava disposto a dar uma chance ao próprio Paulo quando ninguém mais daria (Atos 9:26-27). Sua intuição sobre João Marcos também se mostrou correta.

Esta posição é baseada principalmente nos resultados bem-sucedidos de João Marcos quando ele voltou aos esforços missionários no estabelecimento da igreja. Ele e Paulo obviamente se reconciliaram e foram restaurados, então essa posição sustentaria que Barnabé devia estar certo o tempo todo.


AMBOS ESTAVAM CERTOS

Uma posição final sustentada é que ambos os homens estavam certos. Cada homem viu a realidade da missão para a qual Deus o havia chamado, considerou João Marcos e tomou sua decisão com base em sua experiência, conhecimento, sabedoria e fé. Paulo provavelmente acreditava que a missão era muito importante para trazer alguém que poderia comprometer seu futuro ministério. Barnabé provavelmente viu o espírito arrependido e o potencial em João Marcos e quis dar a ele uma segunda chance.

Outra maneira possível de afirmar essa posição seria sugerir que ambos estavam um pouco errados. Talvez Paulo estivesse errado em ser tão duro com João Marcos e não lhe dar uma segunda chance. Talvez Paulo não estivesse mostrando a João Marcos a graça que Paulo havia mostrado no evangelho. Talvez ambos estivessem certos em manter a posição que ocupavam, embora ambos estivessem ligeiramente enganados.


MINHA POSIÇÃO

Das três posições listadas aqui, a última posição é a mais pessoalmente atraente. Fica claro na passagem que nem Paulo nem Barnabé foram descritos como pecadores neste evento. A passagem nem mesmo descrevia um deles como estando errado.[1]

Parece que Lucas está retendo intencionalmente a informação crucial que seus leitores querem saber: um deles estava errado e, em caso afirmativo, qual deles? Lucas provavelmente retém essa informação porque não importa quem estava certo, ou mesmo quem estava mais certo. Parece haver um ponto maior e mais importante aqui. Isto é, embora Paulo e Barnabé tivessem um desentendimento significativo que resultou em divisão, cada um permaneceu fiel a Deus e foi usado poderosamente por Ele.

Paulo tomou sua decisão com fé e com a personalidade e sabedoria que Deus lhe deu. Barnabé fez o mesmo e eles chegaram a conclusões diferentes. Essa diferença causou a separação deles, mas não os tornou culpados de pecado.


[1]Estou diferenciando entre pecaminosidade e estar errado. O pecado é uma violação da lei de Deus. Estar errado é um resultado natural de um ser finito e falível.


VÁRIAS LIÇÕES

Em primeiro lugar, vemos que Deus, em Seu plano soberano, usa circunstâncias difíceis e traz o bem. O que Satanás significou para o mal, Deus usou para dobrar o impacto missionário, formando duas equipes a partir de uma. Ao longo da história da igreja, vemos muitas vezes o bem-vindo da divisão. Ocasionalmente, uma divisão na igreja, embora difícil e triste, pode resultar no nascimento de dois ministérios a partir de um.

Em segundo lugar, há ocasiões em que é difícil, ou mesmo impossível, dizer quem está errado. Embora o leitor possa ter uma opinião sobre quem estava errado, a passagem não o afirma claramente. Frequentemente, no ministério cristão ou nos relacionamentos pessoais, um desentendimento pode se tornar muito forte e até passível de divisão. Esta passagem ensina que nem todas as divergências podem ser resolvidas. Nenhum ser humano é o juiz final.

Em terceiro lugar, os cristãos podem discordar. Na verdade, o conflito costuma fazer parte da vida cristã. Desentendimentos quase sempre trazem angústia e dificuldade. Frequentemente, a frase “devemos concordar em discordar” é usada. Esse sentimento pode ser útil, mas também há momentos em que devemos discordar e nos separar. Embora isso nunca seja fácil, parece haver justificativa dada nesta passagem para tal evento. Quando dois homens ou ministérios discordam sobre uma nuança de teologia, filosofia ou metodologia, é normal que seu desacordo resulte em uma divisão que não lhes permite mais parceria no ministério.

Finalmente, os cristãos podem esperar e orar pela reconciliação. A história do desentendimento e divisão de Paulo e Barnabé não termina em Atos 15. Como foi observado anteriormente, João Marcos foi restaurado a um ministério cristão frutífero. Mais tarde, ele se tornou um companheiro de ministério de Paulo e foi restaurado relacional e ministerialmente. Muitas vezes, quando um desacordo traz divisão, vemos apenas os efeitos negativos e não antecipamos a reconciliação no futuro, mas no serviço do Rei de misericórdia e graça, sempre existe a possibilidade de reconciliação.


CONCLUSÃO

Esta breve passagem, descrevendo um desacordo embaraçoso entre dois dos líderes mais proeminentes das primeiras igrejas, é dada por Deus como uma lente muito útil através da qual os ministros ao longo dos séculos foram capazes de avaliar e dar sentido aos desacordos de seus dias. Muitas lições de vida podem ser aprendidas com esta passagem. O ministro que ainda não usou esse relato bíblico para confortar sua própria alma, provavelmente o fará no futuro. Onde estariam os ministros cristãos sem essa passagem estranhamente reconfortante? Graças a Deus por esta verdadeira história de desacordo, separação e eventual reconciliação!



BIBLIOGRAFIA

Boice, James Montgomery. Acts: An Expositional Commentary. Grand Rapids: Baker Books, 2007.


Bruce, F. F. Commentary on the Book of the Acts. The New International Commentary on the New Testament. Grand Rapids: WM. B. Eerdmans Publishing Co., 1979.


Kistemaker, Simon J. Acts. Grand Rapids: Baker Book House, 2002.



Longenecker, Richard N. The Expositors Bible Commentary. Edited by Frank E. Gaebelein. Vol 9. Grand Rapids: Zondervan, 1981.


MacArthur, J. F., Jr. Acts. Chicago: Moody Press, 1994.


Polhill, B. John. Acts. Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 1992.



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